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Goiânia, GO, Brazil
Pastor Metodista, Bacharel em Teologia, Posgraduado em Estudos Wesleyanos, Doutor em Ministério, Licenciado em Letras, Adesguiano, Capelão Militar RR (CBM/PA), Presidente da ACMEB - Associação Pró Capelania Militar Evangélica do Brasil, conferencista e escritor.
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CAPELANIA MILITAR: Contribuições Pastorais de João Wesley

Trabalho entregue ao Prof. Paulo Ayres Mattos, em cumprimento às exigências da disciplina Teologia Wesleyana e Desafios Pastorais da Atualidade, como requisito parcial do Curso de Especialização em Estudos Wesleyanos (Latu Sensu) oferecido pela Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, Universidade Metodista de São Paulo.



INTRODUÇÃO
“… mas Wesley era o seu diretor natural. A sua simpatia pelo exército era sempre viva e alerta. Ele nota no seu Diário, falando da Irlanda: ‘A primeira chamada é para a soldadesca’. O caráter de Wesley era de uma natureza que apelava especialmente para aquilo que pode se chamar a imaginação militar – a sua coragem; o seu instinto pela disciplina, o seu porte e acento de comando. Era também a única figura visível em todo o movimento espiritual que afetou estes soldados”. (Rev. W. H. Fichett)

João Wesley desenvolveu uma visão macro do Reino de Deus e da Missão da Igreja para os seus dias. Certo é que, no que dependeu dos seus esforços, procurou fazer-se presente nos mais diversos espaços missionários, sobretudo na Inglaterra, desde a década de 1720 até o final do Século XVIII.
A situação religiosa dos ingleses dos dias de Wesley possuía indicadores de uma sociedade envolta em profundo declínio espiritual, marcadamente pelo que ele mesmo denomina de falta de piedade, em termos de total ignorância acerca de Deus e absoluto desrespeito para com Ele , característica essa presente também nas classes dos soldados e marinheiros .
É lamentável a indisponibilidade de registros que possam fornecer informações mais completas sobre o tempo que Wesley dedicou ao ministério da Capelania, incluindo a maioria dos locais visitados por ele. No entretanto, é possível fazer-se uma coleta de dados relativos ao tema, ainda que esparsamente, os quais se acham presentes ao longo do vida pastoral ativa de João Wesley, período esse durante o qual ele desenvolveu trabalhos pastorais de natureza capelâmica junto aos soldados e marinheiros ingleses e de outras nacionalidades, como veremos a seguir.
O trabalho do Rev. João Wesley junto aos militares se reveste de singular relevância quando, além de se considerar a situação religiosa, espiritual, moral e social dos seus dias, somos colocados diante de um personagem que, se por um lado soube captar os clamores e as angústias dos soldados, por outro conseguiu filtrar a mensagem do Evangelho e transmiti-la aos seus corações utilizando-se de um modus faciendi que incluiu sua presença pastoral, mensagens evangelizadoras, ações de caridade, celebrações direcionadas e um pastoreio castrense de cunho fortemente profético, motivado pela dimensão inclusiva da graça de Deus. Wesley conseguiu indentificar-se com os militares a quem ministrou os quais tinham nele um referencial de homem de Deus, digno de confiança, respeito e obediência, uma espécie de “padrinho”espiritual dos soldados.
O presente trabalho reflete conclusões baseadas mais em amostragem do que numa quantidade exaustiva de dados. Apesar dessa limitação, podem-se verificar os campos em que
Wesley missionou, os métodos sabiamente escolhidos para sua prática pastoral e os fundamentos teológicos sobre os quais desenvolveu suas atividades, as quais, por sua própria natureza, são próprias do que se denomina capelania militar.

I - OS CAMPOS DE ATUAÇÃO
O Rev. João Wesley iniciou suas atividades como capelão militar na Geórgia (1735-1738). Fichett, em sua obra Wesley e Seu Século, dedica um capítulo inteiro ao trabalho dos irmãos Wesley na Geórgia. Carlos foi nomeado secretário-capelão do General Oglethorp, fundador e governador da nova colônia, tendo Frederica como base das suas atividades; João exerceu o cargo de capelão militar sediado em Savanah até ser substituído pelo capelão militar de Frederica (que já não era mais o seu irmão Carlos), já às vésperas do seu retorno à Inglaterra. Com base no referido capítulo, conclui-se que os capelães da Geórgia, nomeados por Oglethorp, recebiam atribuições de natureza burocrática, desenvolvendo paralelamente os serviços pastorais em jurisdições específicas.
Após retornar a Inglaterra e dar início à uma nova fase do seu ministério (1738 em diante), João Wesley encontrou espaço em sua agenda para continuar contemplando a dimensão ministerial da capelania militar, havendo desenvolvido suas atividades de pregação e assistência aos soldados nos mais diversos campos de atuação: salas de reunião de oficiais, acampamentos militares, tropas aquarteladas, guardas dos castelos, teatro de operações de guerra, público reunido em templos e prisioneiros militares. As localidades foram as mais diversas, incluindo cidades e lugarejos constantes na sua rota de viagem previamente traçada ou inseridas eventualmente em atendimento aos convites que recebia enquanto visitava as sociedades metodistas, em território inglês e fora dele.
O público alvo de sua ação pastoral capelâmica incluiu militares ingleses, além dos soldados prisioneiros franceses, holandeses, americanos e outros, dentre oficiais e praças.
As ações capelâmicas de João Wesley foram desenvolvidas em circunstâncias as mais variadas, desde ministrações em templos, auditórios comportadíssimos e atenciosos, pregações ao ar livre sob pressão de turbas irreverentes e nos ambientes deprimidos e fétidos de prisões militares.
Na obra Wesley e Seu Século, o Capítulo IX tem por título: “Soldados Metodistas” . São muitos os integrantes do exército inglês que aceitaram a mensagem do Evangelho e se tornaram metodistas. Wesley mantinha correspondência com eles, inclusive em tempo de guerra, ocasiões em que se achavam distantes da sua pessoa, mas que não deixavam de receber sua atenção e assistência:
“... mas Wesley era o seu diretor natural. A sua simpatia pelo exército era sempre viva e alerta. Ele nota no seu Diário, falando da Irlanda: ‘A primeira chamada é para a soldadesca’. O caráter de Wesley era de uma natureza que apelava especialmente para aquilo que se pode chamar a imaginação militar – a sua coragem; o seu instinto pela disciplina, o seu porte e acento de comando. Era também a única figura visível em todo o movimento espiritual que afetou estes soldados. Falavam dele em suas marchas, escreviam a ele de seus acampamentos, passavam de mão em mão, como jóias, as cartas que ele havia escrito a alguns deles. E quando davam baixa era natural que se unissem a suas sociedades”.

II - A ESTRATÉGIA METODOLÓGICA
1. Oportunidades estratégicas – alguns exemplos
Tomando por base os Diários de Wesley , constatamos que ele sabia aproveitar as oportunidades para anunciar a mensagem do Evangelho aos militares. Eis alguns exemplos:
a) Dia 15/10/1759 - Visitou mais de 1100 soldados franceses que se achavam prisioneiros da Inglaterra, todos atulhados num pequeno espaço, em verdadeiro estado de abandono pelo poder público e pela sociedade de então. Estavam sofrendo todo tipo de carências. A prisão improvisada situava-se em Knowle, distante de Bristol uma boa milha, trecho esse que Wesley fez andando a pé.
b) Dia 13/04/1773 – Pregou em Fullamore, na parte da tarde, ocasião em que todo o efetivo de soldados da localidade compareceu para ouvi-lo atenciosamente.
c) Dia 12/05/1773 – Pregou em Clare, à tarde, uma pequena cidade em decadência onde não existiam sociedades metodistas e nem pessoas interessadas em ouvi-lo, exceção feita aos soldados que ali compareceram. Ademais, após pregar aos soldados, reuniu-se por uma hora com os oficiais militares locais, os quais o hospedaram no próprio quartel naquela noite.
d) Dia 20/05/1773 – Pregou a uma grande congregação de soldados, às 05:00h da manhã, em localidade não identificada (talvez Clare?).
e) Dia 20/07/1778 – Visitou a cidade de Charlemont, hospedou-se no castelo, na residência do Capitão Tottenham, o comandante local. Foi montada uma barraca no pátio do castelo (área da guarda do castelo?) onde Wesley realizou dois cultos, um às 11:00h e outro à tarde, e pregou para um grande número de atenciosos ouvintes .
f) Dia 21/08/1779 – Tomou a iniciativa de visitar Pembroke a fim de pregar aos prisioneiros americanos que estavam naquela localidade. A pregação foi feita na parte da tarde, a uma distância que eles puderam ouvir a mensagem do Evangelho. Vários deles se interessaram pela Palavra de Deus. .
g) Dia 10/10/1783 – Tomou a iniciativa de visitar prisioneiros holandeses assim que soube da presença deles em Southampton. Por ocasião da visita, cerca de 200 presos estavam reunidos para receber o pregador. O culto incluiu hinos em holandês, mas a pregação foi feita em inglês e todos ficaram satisfeitos. O número de justificados e convencidos do pecado estava crescendo muito entre eles. .
h) Dia 26/04/1785 – Pregou na Igreja de Tullamore, a convite do ministro local, com expressiva presença de oficiais e soldados no culto.
i) Dia 20/?/ entre 1760 e 1762 – Pregou a uma grande quantidade de marinheiros, em Passgae, a pedido do capitão Taylor.
j) Dia 27/?/ entre 1760 e 1762 – Wesley retorna de viagem e passa por Cork, pregando à tarde em Barrack Hill, onde a casa estava repleta de soldados, estando presente também seu comandante, todos muito atentos e reverentes, exceto um soldado que foi punido pelo comandante por não se comportar convenientemente no evento.
l) Dia 05/07/entre 1760 e 1762 – Pregou de noite próximo a um acampamento de soldados. .
2. Os espaços estratégicos – alguns exemplos
O Rev. João Wesley ia aonde os soldados estavam, quer por iniciativa própria, quer a convite de ministros religiosos da localidade, quer a pedido dos seus comandantes. Por isso mesmo que nós o encontramos exercendo o ministério da pregação aos militares nas seguintes localidades: dependências dos quartéis, barracas militares, prisões, casas, ar livre, templos e em castelo. Cabe destaque o fato de que Wesley aproveitava certas oportunidades para reunir-se com os oficiais a fim de compartilhar com eles a mensagem do Evangelho. Houve ocasião que ele chegou a hospedar-se no quartel, fato não muito comum a personagens estranhos ‘a caserna, exceto quando se trata de motivo de força maior, de cumprimento de missão militar ou grande amizade com os comandantes. Agindo assim, penetrava nos espaços de comando e liderança das corporações militares. O corajoso Wesley não limitava sua atuação junto aos militares em tempos de paz apenas. A realidade da guerra constituía um dos maiores desafios aos soldados e Wesley concluiu que não poderia ficar ausente das tropas em tais circunstâncias. Dentre os registros alusivos ao seu ministério em épocas de guerra, temos o caso de Newcastle. Data de 26 de outubro de 1745 sua correspondência ao Alcaide de Newcastle oferecendo-se voluntariamente, sem qualquer ônus para o Governo, para prestar assistência religiosa ao pessoal do exército. O momento era dramático face aos combates travados em decorrência de Carlos Eduardo pretender o trono inglês. Wesley percebeu que o moral da tropa e o destino eterno de tantos soldados careciam do suporte oferecido pelo Evangelho de Cristo. Na correspondência, referiu-se à bravura de alguns soldados metodistas que haviam prestados relevantes serviços ao exército e à nação. Duncan Alexander Reily afirma que “Wesley ofereceu seus serviços grátis como capelão, mas o oferecimento não foi aceito” . Porém, é contraditado por Mateo Lelièvre, o qual, além de referir-se à citada iniciativa de Wesley como uma qualidade patriótica, ainda registra que seu oferecimento foi aceito. Prova tal decisão o acurado senso de ocupação de espaços estratégicos que Wesley possuia. Ouçamos Lelièvre:
“Seu patriotismo era muito ardente, e as circunstâncias não tardaram para revelar esse fato. Durante o ano de 1745, a Inglaterra foi sacudida por uma violenta agitação, pois o pretendente ao trono inglês, Carlos Eduardo, desembarcara na Escócia. Seus exércitos conseguiram de imediato alguns triunfos; tomaram posse de Edimburgo, e a partir dali ameaçavam o norte da Inglaterra. Wesley compreendia que a vitória daquele príncipe, se chegasse a ser concretizada, significaria o triunfo do papismo, que se consituiria em uma ameaça para a liberdade em sua pátria. Por isso, usou toda a sua influência, pondo-a ao serviço da causa que personificava as aspirações nacionais. Desde quando lhe chegou a notícia do desembarque, dirigiu-se a Newcastle, a qual, por sua posição setentrional, estava exposta aos maiores perigos. Tão logo chegou, escreveu uma carta ao prefeito da cidade, protestando-lhe a sua fidelidade ao soberano . Pouco tempo depois, ofereceu-se para pregar aos soldados da guarnição, muitos dos quais estavam inteiramente descuidados dos deveres religiosos, e anunciou a Palavra de Deus muitas vezes às tropas ao ar livre. Esse trabalho não foi infrutífero, e as tentativas fracassadas do pretendente, embora não tivessem alterado a situação política na Inglaterra, pelo menos contribuíram ao despertamento de muitas almas que até então tinham ficado indiferentes aos assuntos religiosos”

Por último, um outro espaço estratégico que Wesley ocupou foi na área da comunicação pastoral. Fichett fala sobre a troca de correspondências que havia entre Wesley e os soldados do exército. “Falavam dele em suas marchas, escreviam a ele de seus acampamentos, passavam de mão em mão, como jóias, as cartas que ele havia escrito a alguns deles. E quanto davam baixa era natural que se unissem a suas sociedades”
3. Temática estratégica – alguns exemplos
Os relatos das visitas de João Wesley aos soldados e das pregações que lhes fazia não inclui os temas abordados, exceto alguns casos, a exemplo dos prisioneiros franceses visitados em Knowle, próximo a Bristol, onde o pregador tomou por base para sua mensagem Êxodo 23:9: “Não oprimirás o peregrino; pois vós conheceis o coração do peregrino, visto que fostes peregrinos na terra do Egito”. Eram cerca de 1.100 soldados franceses prisioneiros em total estado de abandono pelo poder público e pela sociedade. A prédica e as obras de misericórdia que se seguiram anteciparam o que atualmente os Direitos Humanos e leis específicas reivindicam e contemplam . No entretanto, já que Wesley pregava freqüentemente aos soldados (ingleses e de outras nacionalidades) e pode perceber suas necessidades mais prementes, foi levado a produzir mensagens direcionadas a eles. Merece destaque a publicação de um documento com conselhos oferecidos aos soldados no qual aborda os temas relacionados à salvação e à vida cristã do ponto de vista deles, os soldados. Procura, assim, preencher uma lacuna bibliográfica de extrema relevância, conforme procurarei demonstrar mais adiante neste trabalho.
Por fim, cabe ressaltar que João Wesley se valia de narrativas relacionadas à experiência religiosa dos soldados. Ele publicou muitas daquelas narrativas na Arminian Magazine e tal material no seu trabalho de pregador e pastor. Além disso, o texto bíblico e sua aplicação prática ocupavam lugar central em suas prédicas aos militares.

III- OS FUNDAMENTOS DA MISSÃO:
1. Fundamento teológico: a graça divina inclui a salvação dos soldados
a) A base oferecida pelas Notas de João Wesley sobre o Evangelho de Lucas 23:47
O texto trata do Centurião comandante da guarnição que crucificou Jesus. Creio ser este o exemplo mais dramático e horrendo de todos que se possam imaginar: trata-se do centurião do Exército Romano que comandou a guarnição que escoltou o Senhor Jesus até o Calvário e procedeu sua execução na cruz. Portanto, alguém cujo coração e mente deveriam estar dominados por total indiferença a tudo que é humano, um ser petrificado e profissionalmente muito bem preparado para comandar execuções sumárias, inclusive de inocentes. É impossível ser apenas ator ou mero profissional em tais circunstâncias sem perder a condição humana, por mais artista que alguém seja!
Todavia, ao comentar o relato de Lucas (Lucas 23:47), Wesley dá a seguinte interpretação à afirmação daquele Centurião em relação a Jesus:

“Verdadeiramente este homem era justo: que significa uma aprovação de tudo o que havia feito e ensinado”.

A afirmação do centurião é resultante, sem sobra de dúvida, de alguma medida da operação da graça preveniente em seu coração. O registro de Marcos 15:39 amplia um pouco mais o campo de visão da operação da divina graça naquele homem, pois diz o texto: “O centurião que estava em frente dele, vendo que assim expirara, disse: Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus” (Marcos 15:39). Mateus 27:54 registra o depoimento com a mesma percepção, sendo comentado por Wesley da seguinte maneira:
“O centurião: o oficial que comandava a guarda; e os que estavam com ele... temeram e disseram: Verdadeiramente este era o Filho de Deus: referindo-se às palavras dos principais sacerdotes e dos escribas: ele disse, sou Filho de Deus” (v. 43).

É pena que Wesley não tenha comentado sobre aquele centurião que aparece em Lucas 7, o que certamente acrescentaria mais contribuições à nossa tese.
b) A base oferecida pelas Notas de João Wesley sobre Atos 10
A nota se refere a um oficial militar. Ao analisar e comentar Atos 10, especificamente a parte que se refere ao centurião Cornélio, um capitão do Exército Romano, João Wesley nos fornece a chave do seu pensamento teológico a respeito da salvação dos militares. Wesley afirma a possibilidade de um militar se converter a Jesus Cristo quando diz que o capitão Cornélio foi “...o primeiro convertido entre os gentios” (Atos 10:1). Seguindo seu raciocínio, ao comentar Atos 10:4, Wesley indica pistas da graça preveniente atuando em Cornélio antes de receber a visita do apóstolo Pedro e ser plenamente esclarecido a respeito do caminho da salvação em Cristo. Vejamos:
Atos 10:4 – “Ninguém se atreveria a dizer que essas ações não eram outra coisa que não pecado, ou que eram abominação aos olhos de Deus. Sem dúvida, a partir de uma perspectiva cristã é certo que Cornélio não era crente; naquele momento não tinha fé em Cristo. E também é certo que todo aquele que busca ter fé em Cristo, deve buscá-la em oração e fazendo o bem a todos, ainda que num sentido restrito, aquilo não coincide exatamente com as normas divinas, necessita obter o favor e o perdão de Deus”.

Por outro lado, Wesley apresenta indicações irrefutáveis da dimensão inclusiva da graça de Deus quando se analisa a abertura da visão espiritual sofrida pelo apóstolo Pedro em relação à visita evangelizante a um gentio. Eis o seu comentário de Atos 10:34-35 e 11:18:
“Em verdade compreendo: com uma claridade que nunca antes havia tido, em virtude do cúmulo de circunstâncias concorrentes. Que Deus não faz acepção de pessoas: seu amor não admite preferências. Num sentido restrito, isto significa que seu amor não se limita a uma nação; em um sentido mais amplo, que ama a todo ser humano por igual e quer que todos sejam salvos”.
Atos 10:35 – “Sino que em toda nación se agrada del que lo teme y hace justicia: Deus aceita, mediante Jesus Cristo, mesmo aqueles que não o conhecem quando se tratam de pessoas que, em primeiro lugar, horam a Deus por sua grandeza, sabedoria e bondade, reconhecendo-o como Causa, Fim e Soberano de tudo que foi criado e que, ademais, a partir desse enorme temor e respeito para com Ele, não só se apartam de toda maldade da qual são conscientes, senão que se esforçam, até onde alcançam luz, por fazer bem todas as coisas. Esta afirmação é categórica e não admite exceções. Tais pessoas têm o favor de Deus, seja que contem, ou não, com sua palavra escrita e seus mandamentos. Sem dúvida, estes dons representam uma enorme benção para todos aqueles que, em alguma medida, já haviam sido aceitos. De outro modo, Deus nunca houvera enviado um anjo para indicar a Cornélio para se comunicar com São Pedro”.
Atos 11:17 – “... Quem somos nós para nos opormos a Deus? Especialmente criando regras de comunhão cristã que excluem a algum dos que ele tem aceito na Igreja das primícias dos que adoram juntos. Oh! Se todos os líderes da Igreja se dessem conta de que isto significa uma usurpação descarada da autoridade do Senhor supremo da Igreja! Oh! Queira Deus que pessoas, talvez com boas intenções mas excessivamente apegadas às suas próprias normas, têm colocado obstáculos a ação de Deus e continuam fazendo-o, possam livrar-se de carregar com tremendo pecado”.

Portanto, a referência aos dois Centuriões (Atos 10 e Lucas 23), é significativa e ilustrativa do ponto de vista da dimensão inclusiva da graça de Deus, porque além de gentios, pertenciam ao povo que estava na condição de opressor dos judeus e, além de tudo isso, ainda eram militares, braço armado do poder dominante, com poder oficial sobre a liberdade e a vida humanas.
c) A base oferecida pelo documento de autoria de João Wesley: Conselhos a um soldado
Em sua farta bibliografia, João Wesley incluiu a abordagem de diversos assuntos organizados sob o título geral “A Vida Cristã”, estando dentre eles um texto riquíssimo intitulado “Conselhos a um soldado” . Trata-se da apresentação de 10 temas, sob a forma de conselhos, todos referentes ao caminho da salvação, tratados de maneira muito direta, com farta fundamentação bíblica, numa abordagem metodológica de confronto, com constante apelo à razão, trabalhando a motivação positiva do primeiro ao último conselho. Tem-se a impressão que a categoria dos militares contemporânes a Wesley, na sua maioria, sentia-se discriminada e esquecida pela Igreja. Ou, ainda, admitiam que não caia sobre eles a responsabilidade pessoal diante de Deus pelos atos cometidos em decorrência do fato de serem soldados, isto é, da condição de servidores do estado. Por outro lado, o Diário de Wesley nos apresenta diversas situações em que ele pregou a militares, até em atendimento a convite de seus oficiais comandantes, fato que sugere a existência dentre eles de grande interesse pela mensagem do Evangelho. Não há dúvida que o conteúdo dos “Conselhos a um soldado” é bastante conciso, mas abrangente na sua temática. Possui um objetivo evangelístico bem claro, como, de igual modo, é carregado de um tom profético e pastoral. A expressão soldado é genérica, aplicando-se aos militares de um modo geral, independentemente da graduação e do posto dos seus leitores e/ou ouvintes. Uma das fontes da sua reflexão teológica é o contexto profissional dos soldados e a qualidade de vida que levavam. Sua tese central é que a condição de soldado não desobriga nenhum militar das suas responsabilidades para com Deus e, muito menos os exclui da dimensão salvífica da graça de Deus. Vejamos, a seguir, um comentário apreciativo dos seus 10 conselhos:
1) Conselho ao soldado para aceitar a realidade inevitável da morte.
A morte é uma realidade inevitável para o soldado e é através dela que sua alma se dirige à eternidade. O soldado nasceu nu, nu retornará à terra e nunca mais retornará a este mundo. O soldado é questionado sobre se está seguro de sua própria morte e da dos outros também. Todos morrem: ricos, príncipes e todas as demais pessoas, nada levando deste mundo. Será que somente o soldado conseguirá escapar-se da morte? Não, ela é tão real que pode ser até encenada e simbolizada como algo que sai dos lábios em direção ao oceano infinito da eternidade.
2) Conselho ao soldado a fim de que se prepare para enfrentar o juízo divino.
O soldado tem que estar preparado para enfrentar o inevitável juízo divino, conforme previsto em Mateus 25:31 e 32 e Apocalipse 2:11 e 12. O julgamento tomará por base as obras boas e más, as palavras fúteis pronunciadas, além dos pensamentos mais íntimos e entranhados do soldado. A bondade exterior não elimina a maldade interior do soldado. O soldado tem consciência da separação existente entre ele e Deus, do seu estilo de vida contrário à vontade de Deus, o que é evidenciado pela negação do amor a Deus. A prova apresentada o que o soldado não encontra felicidade em Deus, pois Deus não é o objeto dos seus desejos e nem alegria do seu coração. O soldado tem demonstrado mais amor à criatura do que ao Criador, aos prazeres do que a Deus. O que fará quando chegar o momento do juízo?
3) Conselho ao soldado para refletir sobre seu destino eterno.
Trata da escolha antecipada do destino eterno. O soldado deve escolher seu destino eterno (céu ou inferno) por antecipação, isto é, antes que chegue o dia de sua morte. O inferno é descrito como lugar onde há fogo eterno, chamas ferozes, ausência total de água para refrescar a língua (Mateus 9:44), tormento noite e dia por toda eternidade. O soldado é advertido solenemente, diante de Deus Pai e Filho, a não desejar ir para o inferno, lugar de tormento.
4) Conselho ao soldado para que se liberte do inferno interior.
O soldado que não se arrepende e se liberta dos pecados, já vive, em seu interior, a ante sala do inferno na presente existência, mas é estimulado a obter u’a morada celestial antes que seja tarde demais! O quadro do inferno interior é pintado da seguinte maneira: consciência adormecida, insensibilidade moral, falta de temor a Deus, ausência de arrependimento, mente carnal, inimizade com Deus, luxúria insensata e daninha, desordem dos sentimentos, vergonha, rancor, ódio, orgulho. O soldado não sairá do inferno enquanto não romper com todas essas coisas, para o que não encontra quem o ajude. É lembrado, todavia, que essas forças não têm o poder absoluto sobre sua vida, mas precisa desvencilhar-se delas enquanto se acha neste lado da vida, já que após a morte, no mundo da escuridão, não terá chance de reverter tal situação. Então o soldado é aconselhado a obter um lugar melhor para residir, uma casa de Deus, eterna nos céus.
5) Conselho ao soldado sobre a felicidade celestial.
A Morada Celestial é descrita como lugar de perfeito descanso, pleno de gozo e agradáveis surpresas, cujas bem-aventuranças são experimentadas antecipadamente por aqueles em quem o Reino de Deus já foi implantado, os quais se tornaram herdeiros da vida eterna. Por isso já desfrutam da herança celestial aqui na terra, por antecipação, pois têm justiça, paz e gozo no Espírito Santo. Suas vidas foram renovadas segundo à imagem de Deus, a quem passaram a amar. Vivem felizes, praticam o amor ao próximo e a si mesmos. Foram justificados pela fé e estão em paz com Deus. Regozijam-se em Deus porque estão conscientes do perdão dos seus pecados, de sua aceitação pelo Deus de amor e porque receberão uma herança incorruptível, incontaminada e imarcescível.
6) Conselho ao soldado para refletir sobre a morte sob a perspectiva de quem exerce uma profissão de alto e iminente risco de vida. O soldado é chamado a se posicionar diante da realidade inevitável da morte, face ao anúncio da salvação. Nem sequer a natureza da profissão do soldado pode livrá-lo da morte. O soldado, como agravante contra si, exerce uma profissão de alto, iminente e permanente risco de vida, fator que deve motivá-lo a responder positivamente ao amor salvífico de Deus.
7) Conselho ao soldado a respeito da sua não imunidade espiritual e pessoal diante do juízo de Deus com base em alegação de natureza profissional. Os soldados são chamados a pensar no enfrentamento do juízo divino. Por ocasião do julgamento dos soldados, Deus não utilizará nenhum critério diferenciado de tratamento, favorecendo-os de acordo com as regalias socialmente conseguidas por causa das suas patentes ou graduações. A morte é igual para todos: o cavalheiro, o soldado, o paisano e o mendigo. O fim da vida anula as diferenças, exceto a condição de santo ou infiel. O julgamento tomará por base registros encontrados nos livros que serão abertos naquele dia; o desejo de Wesley é que o nome do soldado seja encontrado no livro da vida.
8) Conselho ao soldado para refletir sobre seu envolvimento com o inferno desde o tempo em que se acham neste mundo, desde que esteja em pecado diante de Deus. Se os soldados não têm nada a ver com o inferno, por que usam tanto essa palavra? Por que amaldiçoam tanto suas próprias almas, pressupondo que Deus não leva isso a sério? Por outro lado, sendo o pecado o caminho natural para o inferno e face ao envolvimento dos soldados com diversos tipos de pecado, não estão eles seguindo direto para o inferno? O soldado é advertido a prestar atenção ao ressoar da voz divina em seus ouvidos, condenando suas práticas pecaminosas e anunciando o castigo futuro. Por fim, o soldado é questionado sobre a validade dos motivos que o levariam a optar pela destruição do inferno, pela eterna separação da presença e da glória de Deus.
9) Conselho ao soldado que não acredita na existência do inferno como realidade eterna.
O soldado que não acredita na existência do inferno como realidade pós morten é chamado a refletir sobre o inferno existente no interior de sua própria pessoa, inferno esse formado pela falta de paz, orgulho, ira, ódio, rancor, vergonha, situação que se transforma em verdadeiro fogo atormentador do soldado, cujo acirramento interior é comparado ao quadro da alma localizada dentro do lago de fogo que arde com enxofre. Portanto, antes que o soldado se veja separado de Deus por um grande abismo após a morte, deve procurar o escape para sua vida. No caso de sentir-se enfraquecido, o soldado deve clamar a Deus para ser revestido com o poder do alto, na certeza de que Jesus, padrão de justiça, haverá de livrá-lo de todos os seus pecados.
10) Conselho ao soldado para aceitar o convite da graça salvadora de Deus.
O apelo feito ao soldado para aceitar a salvação oferecida por Deus tem por base a dimensão inclusiva da graça divina. O soldado é chamado a admitir que o céu é para ele também, conforme João 3:16, Mateus 25:34. A decisão do soldado em buscar o perdão de seus pecados, crer em Cristo e receber a salvação deve ser tomada de imediato, inclusive por causa do risco de vida que sua profissão lhe impõe. (João 1:6, 29, Isaías 53:4-5 e Atos 16:31 embasam o apelo feito). A dimensão inclusiva do convite da graça é reforçada com a citação de Mateus 9:13 e Lucas 19:10). Há uma oração a Deus, de modo indireto, rogando que dê ao soldado ouvidos para ouvir e coração para compreender o amor de Deus, de modo que o ele possa se apropriar de Gálatas 2:20. O conselho termina de forma positiva e afirmativa: o amor de Deus será derramado no coração do soldado (Romanos 5:5), ele terá um gozo inefável (I Pedro 1:8), estará com seus sentimentos identificados com os sentimentos de Cristo (Filipenses 2:5), andará como Cristo andou (I João 2:6), até que, havendo combatido o bom combate e completado a carreira (II Timóteo 4:7), receba a incorruptível coroa de glória (I Pedro 5:4).
2. Fundamentos da espiritualidade wesleyana: obras de piedade e de misericórdia
Tomando por base “Conselhos a um soldado” e os registros encontrados no Diário de Wesley, identificamos ali o reflexo claro do seu modelo de espiritualidade: os atos de piedade são exemplificados através da leitura e estudo da Bíblia, da oração, da penitência, da comunhão cristã, da celebração do culto. Os atos de misericórdia estão presentes de maneira exemplificativa e ilustrativa no trabalho desenvolvido junto aos soldados prisioneiros franceses, em Knowle, perto de Bristol, tanto pelas ações desenvolvidas pessoalmente por Wesley, quanto pelo envolvimento dos metodistas de Bristol, de Londres e de outras localidades da Inglaterra, o que atribui ao caso um grau de notoriedade singular. Eis o seu registro:
“Segunda-feira, 15 de outubro de 1759
Andei a pé até Knowle, boa milha distante de Bristol, para visitar os prisioneiros franceses. Mais de mil e cem, segundo fomos avisados, estavam reunidos num pequeno espaço, sem cousa alguma em que deitar, senão colchões de palha, e sem cobertores; para se cobrirem só tinham alguns trapos, quer de dia quer de noite, portanto, morreram como se fossem ovelhas atacadas de morrinha. Fiquei horrorizado; à tarde preguei sobre Êxodo 23:9: “Não oprimirás o peregrino; pois fostes peregrinos na terra do Egito”. Levantou-se uma coleta que rendeu dezoito libras, e no dia seguinte chegou a vinte e quatro. Com esta quantia compramos roupa de cama, cobertores, e pano, que foi convertido em camisas e calças; compraram-se também algumas dúzias de meias, e tudo isto foi distribuído entre aqueles mais necessitados. Logo depois a Congregação de Bristol mandou grande número de colchões e cobertores; e não demorou para chegar de Londres outras contribuições; e ainda mais; vieram contribuições de várias partes do reino. Portanto, creio que daqui em diante os soldados serão mais bem servidos”.

3. Propósito da Missão: salvação das almas e reforma da nação
A bibliografia disponível sobre o trabalho de João Wesley com os soldados não deixa nenhuma dúvida sobre o propósito evangelístico de suas mensagens: isto é, empenhava-se por levar seus ouvintes militares a buscar a verdadeira justificação pela fé em Cristo Jesus e procurava fazê-lo de maneira enfática, incisiva e carregada de tom emergencial, haja vista o caráter de profissão de alto, iminente e permanente risco de que se revestia a vida e missão do soldado. Por outro lado, o soldado transformado pelo poder de Deus haveria de refletir em sua nova vida cristã e profissional os valores do Evangelho que havia aceito. De modo que, mesmo indiretamente, a reforma da nação estaria acontecendo inclusive dentro dos segmentos sociais responsáveis pelas questões relacionadas à segurança pública e nacional, abrangendo desde a abordagem dos transgressores, o tratamento dos presos, a garantia do respeito às leis, o relacionamento com os segmentos socialmente marginalizados, o controle dos motins, os confrontos bélicos e outras situações pertinentes à classe dos militares. As transformações que o poder de Deus ocasionava nos soldados refletiam-se no comportamento deles em relação aos seus camaradas, superiores, pares e subalternos, junto a suas famílias, as sociedades metodistas e o público de um modo geral. Abraçavam os valores morais e éticos do Evangelho de Cristo e se tornavam em fervorosos semeadores da mensagem que visava transformar o homem e a sociedade dos seus dias.

CONCLUSÃO
O estudo do empolgante tema proposto bem pode ser ampliado e aprofundado, o que seria objeto de novas pesquisas. O conhecimento da organização militar inglesa, sua missão, seu efetivo, o processo de recrutamento e capacitação das suas Forças, a questão salarial, o enfrentamento dos problemas de segurança interna e externa, as guerras que afetaram a Inglaterra, o conceito que Wesley desenvolveu a respeito da guerra, as biografias dos soldados metodistas, além de outros temas afins, podem fornecer pistas indispensáveis à uma melhor compreensão do cenário dentro do qual Wesley desenvolveu sua capelania militar. Porém, mesmo à luz do caminho que nos foi possível percorrer, torna-se possível elencar algumas valiosíssimas contribuições deixadas pelo Rev. João Wesley para as pessoas que se sentem vocacionadas ao exercício de semelhante ministério. Uma análise da sua obra capelâmica, ainda que parcial, sob o olhar do autor, permite identificar, dentre outras, as contribuições abaixo relacionadas, cujo aproveitamento encontra respaldo na Constituição Federal e a atual legislação brasileira pertinente ao assunto . É o que veremos a seguir:
1) A escolha dos campos de Missão: os quartéis, as unidades-escola, os hospitais, os alojamentos, as capelas, as residências funcionais, os acampamentos, os presídios ou “xadrez” militares, as viaturas, os navios, as aeronaves, outras organizações militares, unidades e sub unidades militares (inclusive as policiais-militares e bombeiro-militares), além dos templos das Igrejas, são locais onde o capelão, em tempo de paz, deve se fazer presente para o cumprimento da Missão.
2) O público alvo da Missão deve incluir a todos indistintamente: homens, mulheres, oficiais, praças, cristãos e não cristãos e seus respectivos familiares (contemplando-se ainda os funcionários civis das repartições militares e seus respectivos familiares).
3) As oportunidades: no Brasil o capelão militar dispõe de inúmeras oportunidades para o desempenho do seu trabalho: a celebração de cultos em datas especiais e de rotina, a visitação aos enfermos e aos presos, a preparação dos jovens para o casamento, a ministração de palestras educativas, a visitação familiar, o atendimento pessoal, as cerimônias (fúnebre, de casamento, de batismo, de formatura, etc.), a distribuição de literatura evangelística e da Bíblia, outras formas de trabalho. Convém ressaltar que o capelão militar, enquanto funcionário público, cumpre seu expediente integral na Corporação, fato que lhe permite investir um tempo significativo no seu ministério junto aos militares de sua jurisdição e força.
4) Metodologia: o exemplo de Wesley é magnífico. Ele incluiu pregação, reuniões com oficiais comandantes, obras de caridade, citação de experiências religiosas de militares, utilização de literatura impressa (Conselhos a um soldado, por ex.), celebração de culto, e assim por diante, tudo porém, bastante contextualizado e muito bem direcionado às necessidades dos seus ouvintes. Não se pode deixar de frisar um aspecto ainda hoje muito importante no trabalho capelâmico brasileiro atual: a teologia da graça com ênfase na sua dimensão inclusiva abrangedora do soldado, exatamente dentro da mesma perspectiva proposta por Wesley. O outro aspecto de igual relevância relaciona-se com a questão ecumênica, tanto em decorrência do conceito eclesiológico e missionário wesleyano, quanto por causa da doutrina militar que prima pela unidade e disciplina das Corporações e, por fim, pela possibilidade das parcerias com capelanias de outras confissões de fé, fator altamente positivo dentro das comunidades castrenses. Não pode ficar fora da lista a utilização dos pequenos grupos ou núcleos de soldados que se reuniam para, à semelhança das classes metodistas, darem seqüência ao programa wesleyano de discipulado; de igual modo, a utilização dos próprios soldados, enquanto elemento leigo, na liderança do movimento de evangelização dos seus companheiros de corporação.
5) O propósito da Missão. É inegável que o ministério capelâmico ainda hoje deve ter por meta principal a evangelização dos assistidos, observando-se a importância dos atos de piedade e das obras de misericórdia como parte do conteúdo do planejamento e das efetivas ações pastorais. Aliado a essa meta, deve valorizar-se sobremaneira a contribuição que a religião cristã oferece à formação moral e cívica dos militares. Nesse caso, reforça o grau de importância do trabalho pastoral, sobretudo na área docente, e amplia-lhe o espaço de atuação, pois de fato pesa sobre os militares o ônus de constituirem verdadeira reserva moral do seu povo; disso eles têm consciência e isso a sociedade cobra deles permanentemente. A capelania militar têm ai um desafio constante e grande diante de si, para o que deverá utilizar-se, a exemplo de Wesley, de excelente material e metodologia. Ela poderá contribuir para a consecução de resultados que favoreçam o processo de santificação da Nação Brasileira, sem dúvida. A evangelização do expressivo contingente de militares existentes no Brasil é desafio de grandes proporções e urgência, haja vista a natureza e abrangência social das missões constitucionais a eles atribuídas, além da inestimável contribuição que oferecem ao desenvolvimento da sociedade brasileira de um modo geral.
A obra missionária realizada pelo Capelão Wesley e os soldados metodistas comprova que a Gracia et Missio Dei incluem os militares e sugere que a lacuna por eles deixada lá na Inglaterra do Século XVIII clama por novos vocacionados ao ministério evangélico da capelania militar, quiçá em todas as partes da terra. Os frutos compensam, como no registro abaixo:
“Eles suportaram grandes lutas antes de ver a face dele; mas Wesley era o seu diretor natural. A sua simpatia pelo exército era sempre viva e alerta...
Aqueles corajosos soldados metodistas jazem esquecidos em covas espalhadas sobre o continente: mas vale a pena tê-lo em memória. Mostram como as novas forças espirituais, passando por Inglaterra, alcançou classes que pareciam muito além do alcance dos pregadores e guias do movimento” .


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Constituição da República Federativa do, 1988.
FITCHERTT, W.H. Wesley e seu Século: um estudo de forças espirituais. São Paulo: Imprensa Metodista, 1927. 343 p.
GONZALEZ, Justo (Editor Geral). Obras de Wesley. Franklin–Tenessee: Providence House Publishrs, 1996.
Lei Federal 6.923, de 30 de junho de 1981, do Serviço de Assistência Religiosa das Forças Armadas do Brasil
LELIÈVRE, Mateo. João Wesley: Sua Vida e Obra
REILY, Duncan A. Trechos dos Trechos do Diário de Wesley
REILY, Duncan A. Metodismo brasileiro e wesleyano: reflexões históricas sobre a autonomia.



Rev. Aluísio Laurindo da Silva

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