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Goiânia, GO, Brazil
Pastor Metodista, Bacharel em Teologia, Posgraduado em Estudos Wesleyanos, Doutor em Ministério, Licenciado em Letras, Adesguiano, Capelão Militar RR (CBM/PA), Presidente da ACMEB - Associação Pró Capelania Militar Evangélica do Brasil, conferencista e escritor.
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ROSE

Por Aluísio Laurindo da Silva

C
onheci Rose quando estive em Serra Pelada, no Sul do Pará, para organizar uma Frente Missionária no dia 29 de fevereiro de 1989, a pedido de um grupo de garimpeiros residentes naquela localidade.

O sol já ia se pondo enquanto a irmã Rute - integrante da Equipe Missionária local - dava os últimos retoques na arrumação da Capela improvisada onde, naquela noite memorável, realizaríamos o Culto de instalação de mais u´a Missão do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

Rose, filha de uma das famílias da novel Congregação, estava sempre perto da irmã Rute, ajudando-a na preparação da Casa de Deus. Menina talentosa, sabia confeccionar adornos de papel para ornamentar o púlpito e partes da frente interna daquele ambiente de culto.


A celebração começou, gente dentro e fora do salão, umas cem pessoas. Tudo transcorreu normal. Observei que Rose, posicionada nos primeiros assentos, participava dos cânticos e manuseava a Bíblia também.


No final daquela noite, após o Culto, numa reunião de avaliação feita com a Equipe Missionária local, a irmã Rute me perguntou:


- Pastor, o senhor acha que Rose lia a Bíblia que estava aberta em sua mão na hora das leituras bíblicas, no decorrer do Culto?


- Acho que lia, irmã.


- Não, Pastor, ela não lia nada! Ela abria o Hinário e a Bíblia e dava toda impressão que realmente os lia!


- Por que? Perguntei à irmã Rute a qual me deu uma resposta dramática:


- Ela não sabe ler, Pastor. Abre o Hinário e a Bíblia e faz de conta que os lê, pois tem vergonha que alguém descubra que ela é analfabeta!


As palavras da irmã Rute e a imagem de Rose se fixaram de tal maneira em minha mente que fiquei profundamente comovido. Lembrei-me rapidamente dos anos enfileirados que gastei no decurso de minha carreira estudantil ... das inúmeras vezes que me assentei em bancos escolares, do Grupo Escolar à Universidade! Mas, e Rose?


Rose era clara, de boa estatura, esbelta, cabelos castanhos e longos, de aspecto muito observador, com uns doze anos aproximadamente, filha de família garimpeira.


Retornei a Belém após o cumprimento da missão pastoral. Pouco tempo depois o garimpo da Serra Pelada foi desativado e a maioria das famílias se mudou de lá, inclusive a de Rose. Que Deus tenha se lembrado de Rose e concedido-lhe um futuro promissor!


Os tempos se passaram. A experiência serviu-me como grande motivação e desafio missionário. O que fazer diante de tal situação? Até que ponto uma a Igreja de Jesus pode participar da luta de pessoas que precisam de nossa parceria a fim de que tenham uma vida melhor? - Perguntei-me diversas vezes. Incentivei a criação de diversos projetos sociais, dentre eles um de alfabetização de jovens e adultos das periferias de Belém do Pará, com resultados muito gratificantes. Senti-me desafiado a indicar às Igrejas que pastoreei as inúmeras oportunidades de serviço cristão que nos cercam e isso em qualquer parte do Brasil.


Quantas meninas Rose nos lembra? Muitas, estando entre elas as analfabetas, as órfãs, as vítimas de lares destruídos, as que já se iniciaram na prostituição, na bebida alcoólica e nas drogas, sem nos esquecermos daquelas que não têm casa onde morar, pão para se alimentar, médico, dentista, advogado ou psicólogo a quem possam recorrer... e assim por diante. Qual será o futuro dessas criaturas?


Dedico esta reflexão a todas as pessoas que ainda conseguem se deixar sensibilizar diante dos quadros de carência com os quais nos deparamos todos os dias. Pessoas que ainda sonham que é possível fazer alguma coisa boa em favor do próximo, seja ele quem for, esteja onde estiver e como estiver. Vamos unir nossas forças e oferecer nossa efetiva e urgente contribuição. Pois só assim o monstro do analfabetismo, da fome, do desemprego e outros tantos monstros serão vencidos e nossos semelhantes terão acesso a uma condição de vida mais digna e justa, posto que mais humana.

Isso Deus quer, com certeza! Isso também é Evangelho!

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